
A economia portuguesa cresceu 0,2% face ao homólogo e contraiu 0,9% face ao trimestre precedente. O consumo privado e o investimento pioraram, mas as importações também abrandaram.
Dados que não trouxeram, para João César das Neves, nenhuma surpresa, até porque, depois da expansão do segundo trimestre, era de esperar uma nova correcção. Por isso mesmo, «não se deve exagerar esta quebra», apesar de os sinais de retoma «não serem brilhantes».
Já Paula Carvalho, do BPI, diz ter ficado «negativamente surpreendida» pela dimensão da quebra no consumo. «Era de esperar uma correcção, mas não tão grande», disse, acrescentando que este comportamento «denuncia que a economia continua com uma tendência negativa, de quase estagnação».
Sobre as exportações, o professor de Economia da Universidade Católica lembra que «são sempre muito instáveis», e pede cautela a interpretar o seu comportamento.
Neste campo, Paula Carvalho diz mesmo que «as importações foram a única surpresa positiva».
Metas do Governo em causa
Quem tem uma tarefa difícil entre mãos é o Governo. A evolução da economia no terceiro trimestre implicaria um forte crescimento nos últimos três meses do ano para cumprir a meta estabelecida. O economista admite que era «ambiciosa, como é normal», pelo que «não deverá» concretizar-se.
O mesmo diz a economista do BPI, para quem deverá manter-se a tendência negativa, embora com menor ímpeto.
Para o ano que vem, César das Neves admite mesmo que o Governo vai ter dificuldades em cumprir o Orçamento do Estado para 2006. É que o ano que vem vai voltar a ser «um ano difícil», até porque a consolidação orçamental vai exigir sacrifícios de todos. Por isso mesmo, «não será em 2006, provavelmente nem no ano seguinte» que a economia portuguesa vai voltar a crescer ao seu ritmo potencial.
E a retoma em 2008 «vai depender das reformas que conseguirmos fazer, se realmente reduzirmos a despesa e conseguirmos reequilibrar as finanças públicas», então pode ser que a economia volte a recuperar significativamente já naquele ano.
Neste contexto, o professor acredita que o Governo está a dar «um primeiro passo» com todas as medidas que tem anunciado, mas que está «longe de ser suficiente». Pelo menos «em termos políticos, demonstrou coragem ao enfrentar alguns lobbies».
Mas o melhor é que o Executivo tem «a adesão da opinião pública» às reformas que tem anunciado, o que reforça a sua capacidade para as concretizar.
Empresas com finanças mais saudáveis
Um pouco mais optimista em relação a 2006, apesar de concordar que a retoma será modesta, está Paula Carvalho. A economista espera uma melhoria, pelo menos no que se refere ao investimento empresarial. «São já demasiados períodos de contracção e é de esperar que entretanto tenha ocorrido alguma alteração na estrutura da produção». Acredita que «as empresas estão em melhor forma, em melhor situação no que se refere a créditos e aos seus depósitos, com a sua saúde financeira reforçada».
De resto, «também no exterior é de esperar um ano mais positivo, de crescimento mais robusto». A ajudar estará um certo alívio no preço do petróleo e a subida apenas moderada das taxas de juro, que «não estrangulará as empresas».
Para o consumo privado é que a economista não vê o fim dos tempos difíceis, ou não se mantivesse, para o ano que vem, o ambiente fiscal desfavorável e restritivo, quer com a manutenção do IVA a 21%, quer com as medidas de contenção que o Governo terá de continuar a aplicar.
Sem comentários:
Enviar um comentário